América do Sul, um continente em equilíbrio entre recessão, dívida e inflação galopante

O Venezuela está se movendo em direção ao default por causa do colapso no valor do petróleo, a Argentina tem que lidar com um aumento dos preços e não consegue quebrar o impasse dos títulos da dívida pública, o Brasil perdeu competitividade e aborda um escândalo de corrupção. Se salvam apenas Chile e Colômbia, enquanto Cuba espera nas retomadas relações com os EUA, mas deve renunciar ao petróleo a baixo custo que vinha de Chavez.
Um poço de petróleo venezuelanoToda uma série de questões estão culminando ao mesmo tempo. E o continente Sul-Americano tem, assim, que enfrentar a fase economicamente mais difícil de sua história recente.
Até ontem era considerado uma incubadora de novos, reais ou supostos, modelos econômicos. Hoje toda a área mais parece um hospital. Pacientes graves como o Venezuela, novas emergências com alto potencial de contágio como o Brasil, e pacientes crônicos como a Argentina.
Grande parte, embora não todas, dependem do contexto internacional. O colapso do petróleo bruto (-50% desde setembro do ano passado) e do abrandamento de outras matérias-primas de que os países sul-americanos são os maiores exportadores começam a doer. Além disso, o fortalecimento do dólar e a perspectiva de aumento das taxas de juros dos EUA são elementos que tradicionalmente penalizam todas as áreas emergentes. O capital estrangeiro tende a se bandear para o Ocidente, menos arriscado e novamente com rendimentos atraentes. O efeito mais imediato é o enfraquecimento das moedas nacionais, porque a venda de ações passa pela conversão da moeda local em dólares ou euros. Para as empresas tornam-se, por conseguinte, mais difícil de honrar suas dívidas em dólares. Além de fatores globais, os países individuais, no entanto, têm muitas responsabilidades.

Brasil apertado entre preços galopantes, moeda fraca e um escândalo de propinas

Pela dimenção geográfica, demográfica e econômica a situação mais preocupante é, provavelmente, aquela do Brasil.
O país está em recessão. Em 2015, o PIB deverá diminuir de 0,5%, mas as estimativas são continuamente revistas em baixa. A inflação está se aproximando de 8% e só no ano passado a moeda local desvalorizou em 50% em relação ao dólar. Muitos observadores atribuem a culpa a Brasília por não implementar qualquer reforma significativa nos anos de crescimento. Salários públicos e privados regularmente subiram mais que a produtividade e do PIB tornando o país cada vez menos competitivo, e favorecendo a subida dos preços. Apesar dos efeitos contraproducentes sobre o crescimento o Banco Central brasileiro foi forçado a elevar os juros mais uma vez até o atual de 12,75% para tentar conter a inflação e apoiar a moeda nacional. Também porque, aproveitando juros baixos, ao longo dos últimos cinco anos, as empresas brasileiras aumentaram seu endividamento total em dólares de 100 a 250 biliões. Agora que o real vale a metade, o fardo de pagar resgates e juros é muito mais oneroso para suportar. Em alguns casos, torna-se uma bomba de tempo.
PetrobrasOs problemas, então, eles nunca vêm sozinhos e no Brasil acaba de explodir o escândalo Petrobras, gigante estatal de petróleo, no centro de uma vasta rede de propinas e financiamento ilegal dos partidos políticos.
O grupo, que agora vale 35 bilhões na bolsa de valores, mas apenas em 2008, capitalizava 200, era uma espécie de hub da propina. Cada empresa externa que recebia um contrato tinha que pagar o 3% do valor do contrato para os principais partidos políticos. Uma montanha de dinheiro sujo que se suspeita ao longo dos anos chegou a 28 bilhões de dólares.
Entre os suspeitos estão vários ex-ministros, os presidentes das duas casas do Congresso e o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores de que é o líder a Presidenta Dilma Rousseff. Além das pesadas repercussões políticas existem as econômicas. Por causa do que está emergindo da investigação, a Petrobras não é capaz de certificar o seu balanço e poderia chegar a estar em uma situação de default técnico. A empresa está muito endividada: só em relação aos bônus em dólares tem títulos no mercado para 40 biliões e entre os grandes credores estão incluidos todos os grandes bancos do país. Atualmente cerca de 20 biliões de investimento já planejado pelo grupo também estão congelados.

A Argentina, uma economia doente crónica há décadas

Na Argentina a inflação é de 40%. Continua o impasse sobre os títulos da dívida pública – A ser afetada pelos problemas do vizinho Brasil é, em primeiro lugar, a Argentina que já navega em águas turvas e aloca 20% das suas exportações para o país vizinho.
Assim como o Brasil, a Argentina também está experimentando um ano de recessão (-2,8% do PIB em 2015 segundo o Fundo Monetário Internacional) e está às voltas com a inflação que, de acordo com estimativas não oficiais – os números oficiais não são considerados de confiança – aproxima-se de 40%. O que é pior, os salários e os preços correm uns atrás dos outros em uma espiral que parece fora de controle e está drenando os recursos do país.
Enquanto isso, continua o confronto com o sistema de justiça dos EUA que, a pedido de alguns fundos, afirmou a obrigação de reembolso dos títulos em default em 2001 que não foram trocado com novos títulos. Títulos que Buenos Aires havia escolhido a emitir ao abrigo da lei do Estado de Nova York. Um teste de força para que o momento gerou um impasse em que ninguém é pago (nem os detentores de títulos antigos, nem aqueles que aceitaram a substituição das emissões de 2005 e 2010) e o país já não pode contrair empréstimos nos mercados internacionais. Enquanto isso diminui o valor das exportações de commodities agrícolas que tenham assegurado até agora ao país o afluxo de moeda forte. Oficialmente, um dólar é negociado a 8,7 pesos, mas no mercado negro, onde o valor da bolsa é, paradoxalmente, mais próximo da realidade, agora você cambia um dólar por 13 pesos. Algo no país poderia mudar com as eleições na próxima primavera, quando o presidente Cristina Kirchner deve deixar o lugar a sucessores mais dispostos a negociar.

Venezuela dança à beira do default

A situação mais crítica é a da Venezuela. O país é, de longe, o que mais depende do petróleo, como o óleo cobre 93% de suas exportações. Este ano, o faturamento deve, no entanto, parar a 35 milhões de euros, quase metade em comparação com os 65 do 2014.
O presidente Nicolas Maduro continuou as políticas econômicas generosas iniciadas por Hugo Chavez financiadas regularmente em déficit, mas quando o petróleo estava viajando acima de 100 dólares o barril. No entanto, logo encontrou-se sem o dinheiro para sustentá-las. Sem as receitas do petróleo, sem dólares que entram no país, sem a capacidade de se financiar nos mercados ou quase, considerando os juros de 16% que pagam seus títulos, a Venezuela não é capaz de importar quase nada.
As medidas de controle de capitais só tornaram a situação pior. Os números da inflação não são publicados desde 2013, mas estima-se mais de 60%. A consequência mais visível são as filas nos supermercados, as prateleiras vazias e, finalmente, a adoção de medidas como a introdução de scanners de impressões digitais nas lojas para controlar a quantidade de produtos adquiridos pela mesma pessoa e limitá-las.
O que você lê, em vez de números é um país que está se movendo em direção a uma recessão profunda e provávelmente o default desde que no segundo semestre do ano, estão previstas, incluindo títulos e reembolsos de juros, vencimentos para quase US$ 6 bilhões.

A situação económica nos outros países da América Latina

Neste quadro sombrio são salvos países como Chile e Colômbia, que certamente são afetados pela situação global da área no momento, mas não têm problemas particulares.
O México é uma história diferente, porque, economicamente falando, seus destinos estão intimamente ligados ao desempenho dos Estados Unidos. O país exporta petróleo, mas também tem uma atividade manufatureira generalizada que se beneficia dos menores custos da energia. O efeito das “matérias-primas” é, por conseguinte, substancialmente equilibrado.
Um destino semelhante, ou seja, um afastamento do Centro-Sul América e uma maior proximidade para os EUA, poderia enfrentar Cuba agora que a administração Obama colocou um fim ao embargo, que durou 54 anos. Tecnicamente as restrições ainda têm de ser desmontadas, mas aos poucos os dois países vão restaurar as relações, incluindo às comerciais. No passado recente Raul Castro foi muito apoiado pela Venezuela de Chávez, que não só podia sustentar as políticas internas generosas mas também enviava 400 mil barris de petróleo por dia a preços reduzidos para 16 países membros da aliança Petrocaribe. Havana, que foi o principal beneficiário do programa visa garantir o abastecimento a preços controlados, tem visto por agora reduzido para metade o fluxo de petróleo e novos cortes virão em breve. A ilha pode em breve encontrar-se sem outra alternativa senão olhar para o (ex) odiados vizinhos.